A intenção desse espaço é liberar e discutir sentimentos, fatos e situações da vida, em muitos casos comum entre nós meros mortais em evolução, mas que nem sempre se desenrolam facilmente em um mero bate papo. No entanto, é tão estranho carregar uma vida inteira no corpo e ninguém suspeitar dos traumas, das quedas, das angústias, dos medos, dos anseios, dos choros e das frustrações vividas.

Se quiser liberar e compartilhar dissabores e inquietações e suas advindas possibilidades e aprendizagens, sinta-se honrosamente convidado para entrar, sentar e desembuchar, e de quebra, servir-se de uma ferramenta virtual de catarse e afago...



27/05/2010

Eu

DÉBORA S. C., brasileira, solteira, educadora, natural de São Paulo-SP,  residente à rua dos bobos numero zero, testemunha compromissada e advertida na forma da lei, inclusive quanto à pena cominada ao delito de falso testemunho ao Juízo. Sendo inquirida passou a dizer que NÃO é refém do destino, que embora sejas uma reles mortal com suas contradições e complexos, afirma-se como força criativa, dotada de capacidade, sensibilidade, desejo e vontade, pois, “Não é a altura, nem o peso, nem os músculos que tornam uma pessoa grande. É a sua sensibilidade, sem tamanho..." *1

Confessou ter constatado que não quer simplesmente existir, mas, sobretudo, VIVER, passando a expor de forma clara e inequívoca através do consagrado compositor e cantor Arnaldo Antunes:

“Eu não caibo mais nas roupas que eu cabia
Eu não encho mais a casa de alegria
Os anos se passaram enquanto eu dormia (...)
Eu não vou me adaptar, me adaptar, me adaptar não vou. me adaptar.” *2

Alegou que se esforça para não julgar as pessoas, mas ainda se decepciona com o caráter e atitudes de alguns seres humanos. Porém, evidenciou que “se respeitar as pessoas como elas são, você pode ser mais eficaz ajudando-as a se aperfeiçoarem”.*3

Relatou que costuma ser definida, pelos mais íntimos, como Inteligente, Estressada, Complexa, Louca, Amiga, Inconstante, Sensível, Impulsiva, Dedicada, Ávida, Ousada, Excêntrica, Corajosa, Desorganizada, Curiosa, Atrapalhada, Divertida, Impetuosa, Charmosa, nunca está satisfeita com nada, etc etc etc, de qualquer forma declarou a depoente: “Ajusto-me a mim e não ao mundo” *4, ressaltando ainda que, “A arte de ser louco é jamais cometer a loucura de ser um sujeito normal” *5

No entanto, salientou que às vezes ser “ela” se torna um tanto enfadonho e então por um breve momento deseja: “Si pudiera olvidarme por siempre de mí mismo, habrías de encontrarme allí en tu dulce abismo.” *6

Afirmou ser apaixonada pelos seus amigos, por Livros, Filmes, Dança (Arabe, Flamenco e de Salão, esp. Tango) e Música alta e dos mais variados estilos. Declarou ainda amar a sua Profissão e ser fascinada por massas, chocolate, café, Baileys, Vinho e tequila.

Confessou que se encanta com crianças e velhinhos, com o Mar e a Lua, com a história de Sherazade e os contos das Mil e uma Noites. E que adora ler, escrever, dançar, viajar, filosofar, conversar, contar histórias, fotografar, conhecer novos lugares, culturas e novas pessoas e passar o tempo com pessoas divertidas, principalmente aquelas mais raras, do tipo: “Há pessoas que nos falam e nem as escutamos, há pessoas que nos ferem e nem cicatrizes deixam mas há pessoas que simplesmente aparecem em nossas vidas e nos marcam para sempre.”*7

Assegurou que o "O diabo dessa vida é que entre cem caminhos, temos de escolher apenas um e viver com a nostagia dos outros noventa e nove” *8 e tem aprendido dramaticamente que "Quanto mais se tem dentro de si, menos se quer dos outros." *9, o que lhe permitiu reconhecer:

“(...)Avec mes souvenirs
J'ai allumé le feu,
Mes chagrins, mes plaisirs,
Je n'ai plus besoin d'eux!
Balayé les amours
Avec leurs trémolos
Balayés pour toujours
Je repars à zéro...
Non... rien de rien...
Non... je ne regrette rien
Ni le bien qu'on ma fait,
Ni le mal - tout ça m'est bien éga!(...)” *10

Admitiu que possui um amor eterno: "Amar a si próprio é o começo de um romance para a vida toda!"*11

Declarou que embora ainda necessitada de uma maior racionalidade, já NÃO busca apenas um "happy end" como os contos de fadas internalizam tal idéia em nós mulheres ainda meninas, afinal até o “sempre” tem um final, “Nada é permanente nesse mundo cruel. Nem mesmo os nossos problemas*12

Mesmo assim, diz ter aprendido muito sobre as diferenças da psique masculina e feminina, mas defende, veemente, algo em comum: “(...)Todo homem merece um harém, toda mulher também!” *13

Mencionou que não cultiva na vida verdades absolutas e moralistas, afinal "O que é verdadeiramente imoral é ter desistido de si mesmo." *14

Sobretudo porque, "Os olhos dos outros são prisões; seus pensamentos nossas celas." *15 , e, ratificou, "O homem que quiser conduzir a orquestra tem que dar as costas para o público." *16 , e, por fim complementou, “Toda felicidade é construída por emoções secretas. Podem até comentar sobre nós, mas nos capturar, só com a nossa permissão." *17

Confessou que seus maiores temores, receios e incômodos são: altura, baratas, dirigir e, os piores deles, ter sempre a sensação que não disse tudo que queria e devia no momento oportuno e também saber escolher entre a razão e a emoção, entre a Terra e Lua:

“Por mais que eu pense
Que eu sinta, que eu fale
Tem sempre alguma coisa por dizer
Por mais que o mundo dê voltas
Em torno do sol, vem a lua me
Enlouquecer” *18

Relatou também, que ainda sonha em ser uma conhecida Escritora, uma Doutora em educação, uma Musicista, uma Fotógrafa profissional, uma criativa Roteirista, uma eficiente Juíza de direito, uma Egiptóloga, uma talentosa Bailarina de: dança do ventre, dança flamenca e de tango, uma lutadora de Krav Magá, uma viajante despreocupada e uma pessoa mais desencanada. Sim, tudo ao mesmo tempo...Por que não?!?! Afinal, “Tenho em mim todos os sonhos do mundo”. *19

Afirmou ainda, que a Vida é algo que se Conquista, que a raiva não deve tomar o lugar da compreensão, que sempre busca aprender com seus erros, micos, cabeçadas, escoriações, trombos, tropeços e tombos, afinal:

"...You live, you learn
You love, you learn
You cry, you learn
You lose, you learn
You bleed, you learn
You scream, you learn..." *20

Defendeu que apesar de todas as decepções, frustrações e obstáculos encontrados no caminho, VIVER VALE A PENA, pois os momentos intensos, o conhecimento produzido e acumulado, as pessoas que entraram em sua vida, somado aos desafios superados, às aventuras, coragem e ousadia contabilizam um saldo bem recheado e histórias para contar e gargalhar!

Esclareceu ainda que todas as pessoas deveriam se preocupar menos com a vida alheia e Viver Intensamente a sua, “porque embora quem quase morre esteja vivo,

quem quase vive já morreu.” *21 e que se deve lutar pelo que se acredita mesmo que tudo pareça ir contra a maré da insensibilidade humana, afinal "Não é porque certas coisas são difíceis que nós não ousamos; é justamente porque não ousamos que tais coisas são difíceis." *22

E advertiu que quando as agruras dessa vida inevitavelmente esbarrarem em nós, às vezes não há muito o que se fazer, então apenas cante, seja lá o que gostar ou se quiser experimentar, eis sua sugestão:

"...Twenty, twenty, twenty, four hours to go
I wanna be sedated
Nothing to do, nowhere to go, oh
I wanna be sedated..." *23


"...nassik ya habibi il rap w il rock
wi ta aala nir'os baladi
halawa
shik shak shok..." *24

Por fim admitiu que uma das coisas que mais busca nessa vida é autoconhecimento e se libertar da condição de escuridão que nos aprisiona através da luz da verdade, corroborando o Mito da Caverna. *25

E ressaltou que muitas vezes ”para enxergar claro, bastar mudar a direção do olhar"*26. Para tanto, não é preciso ter pressa, como para nada nessa vida, afinal “A Lua anda devagar.... mas atravessa o mundo...” *27

Sendo assim, nada mais disse, nem lhe foi perguntado. Lido e achado conforme, vai devidamente assinado pela autoridade, pelo conduzido e por mim, que o digitei, ou seja, as muitas mulheres em uma, mas “Não me pergunte quem sou e não me diga para permanecer a mesma.” *28



*1 Martha Medeiros
*2 Não vou me adaptar – Composição: Arnaldo Antunes
*3 John Gardner
*4 Anais Nin
*5 Raul Seixas
*6 Anoche Soñe Contigo - Composição: Kevin Johansen
*7 Cecília Meireles
*8 Autor desconhecido
*9 Irvin D. Yalom
*10 Non, Je Ne Regrette Rien – Composição: Michel Vaucaire / Charles Dumont
*11 Oscar Wilde
*12 Charles Chaplin
*13 Poligamia - Composição: Paula Toller, George Israel
*14 Clarice Lispector
*15 Virginia Woolf
*16 Max Lucado
*17 Martha Medeiros
*18 La bella luna - Herbert Vianna
*19 Fernando Pessoa
*20 You learn - Composição: Alanis Morissette / Glen Ballard
*21 Luis Fernando Veríssimo
*22 Sêneca
*23 I wanna be sedated - Composição: Joey Ramone / Johnny Ramone / Dee Dee Ramone
*24 Shik Shak Shok – compositor desconhecido
*25 O mito da caverna -  Platão, obra: A República (livro VII).
*26 Antoine de Saint-Exupéry
*27 Proverbio Africano
*28 Michel Foucault

18/05/2010

Alimentando a Alma!

E lá no auge da minha adolescência anos 90, ao mesmo tempo que curtia o som de:  *Nirvana*Pearl Jam*Ramones*Radiohead*Alice in Chains*Soundgarden*Metallica*Bratmobile*Bikini Kill*4Non Blondes
*Inxs*Garbage*Smashing Pumpkins*... Enfim...Também, diante de um torção de nariz aqui, outro ali dos amigos e colegas, cantarolava: "Do you wanna dance under the moonlight? Squeeze and kiss me all through the night. Baby, do you wanna dance?"


Digamos que, naquela época grunge, não era tão convencional uma adolescente curtir Johnny Rivers, mas, no que se refere a gosto musical pelo menos, não me importava e ainda não me importo com a opinião alheia, e olha que naquela época ainda ouvia também The Pretenders, The Mamas and the Papas e Juice Newton, agora é a música árabe que compreende uns 70% do que ouço frequentemente.


Mas voltando ao Johnny Rivers... Certo dia, na fila do caixa de uma loja, pasmem, do Mappin (como estou véinha), eis que começa a tocar “Do you wanna dance?”, comecei a curtir o som sem saber a procedência, então perguntei, QUASE em vão, à minha irmã “Nossa, quem canta isso?”, (quase em vão porque obviamente ela não teria a resposta). Porém, um homem, na altura dos seus 40 anos, muito charmoso e bonito por sinal, que se encontrava atrás da gente, não só respondeu a minha pergunta, mas me passou a ficha completa do Johnny... Imediatamente, deixei minha irmã na fila paquerando o tal homem e fui procurar o cd que tinha aquela música. Trouxe o cd para casa, descobri muitos outros e desde então aprecio o músico e cantor em questão.


Curiosa e ironicamente, encontrei na vida outros simpatizantes pelo Johnny Rivers... E ontem acompanhei o show, QUE SHOW, do mesmo com uma ótima companhia!!! Valeu por muitos momentos: pela excelente performance do Johnny e banda, pelos sons e efeitos extraídos com sua guitarra, pelos clássicos e pelas novas músicas de “Shadows Over The Moon”, pelo coro de "Baby I Need Your Lovin" e "Do You Wanna Dance?" e pelas companhias, aquela que tinha ido comigo e as outras que lá conhecemos! A única coisa chata foi ter que controlar o corpo, que queria dançar e pular, pular e dançar, menos ficar sentado quase que inertemente devido a restrição imposta pelas regras do local, argh!
O cara, de fato, é incrível, cantou muito, tocou muito, muito mesmo, e embalou tanto os mais velhos, quanto os mais jovens que ali estavam!!!


Bem, e o que isso tem a ver com o conteúdo desse blog, q se propõe a discutir o que está escrito aí em cima.... Tem a ver com o cardápio da alma! A vida não depende apenas da sobrevivência do corpo, mas também da dieta da alma. E para alimentar a alma é obrigatório sair à caça, é obrigatório PERMITIR-SE!


Arroz, feijão, frango, verduras, legumes, isso nos mantém de pé, mas não acaba com o nosso cansaço diante de uma vida, que em um mero descuido, acaba tornando-se repetitiva e entediante. Uma praia, um lugar diferente, um bom filme, livro, um encontro e boas gargalhadas com um amigo verdadeiro, uma galeria de arte, uma peça teatral, um concerto, uma apresentação de dança, um show de um músico apreciado, tudo isso compõe o variado cardápio da alma e que nos mantem muito bem nutridos!!!!

Débora Calvo
09 de Maio/2010